Corzianena
Corzianena (em grego: Χορζιανηνή, Chorzianēnḗ), Corz[i]ana (Χορζ[ι]ανή, Chorz[i]anḗ), Cortzena (Κορτζηνή, Kortzēnḗ; em armênio: Խորձեան; romaniz.: Χorjean) ou Orzianina (Ορζιανινή, Orzianinḗ)[1][2] foi um cantão (gavar) da província (ascar) de Sofena, no Reino da Armênia. Mais tarde, comporia um dos distritos do Império Bizantino na província da Armênia Magna.
Geografia
[editar | editar código-fonte]Segundo Procópio, Corzianena se estendia por três dias de viagem entre Citarizo e Teodosiópolis, permitindo identificá-la com os vales fluviais e colinas a leste do moderno monte Bingol (Bingöl). O trecho mais vulnerável da região, devido a sua carência de traços naturais defensáveis ao longo da fronteira, se estendia do vale do Goinuque (Göynük) ao sul das nascentes do Tuzla perto de Çat ao norte.[3] Segundo estimativas modernas, compreendia uma área de 3 450 quilômetros quadrados. Sua principal fortaleza chamava-se Coloberda (Կողոբերդ, Kołoberd) ou Queli (Քեղի, Kełi).[1]
História
[editar | editar código-fonte]Corzianena foi um dos cantões da província de Sofena, do Reino da Armênia.[4] Ao contrário dos cantões vizinhos, que formavam seus próprios Estados principescos, pertenceu a Balabitena ou Astianena, que eram governadas por suas dinastias locais.[5] Procópio ressalta em sua descrição que a fronteira entre o Império Bizantino e o Império Sassânida era fluída nas regiões armênias desses países, sobretudo em Corzianena.[6] Segundo ele, os súditos dos romanos e persas não temiam uns aos outros e não suspeitavam de ataques, tendo casado entre si e compartilhado mercados e fazendas.[7] Sob o imperador Justiniano (r. 527–565) uma série de fortificações foram construídas ao longo da fronteira para protegê-la.[6][8][9] A principal, Artaleso, foi construída ou fortificada sob suas ordens e serviu como sede para um duque e seu exército de campo.[10][11] Artaleso ainda não foi identificada, mas é provável que tratou-se de um pequeno forte afastado.[12]
Durante a Guerra Anastácia (502–506), devido a inexistência de fortes no distrito, Corzianena foi alvo de invasões dos persas do xá Cavades I que entrou em Astianena através de Corzianena e então atravessou os passos de Safcas e Ilírisis em seu caminho para o sul.[13] Uma série de conflitos na zona de fronteira forçou Anastácio I (r. 491–518) a tomar medidas urgentes para melhor a posição estratégica do império no setor oriental da fronteira, do mar Negro a Martirópolis. Corzianena, Astianena e outros territórios estavam expostos a ataques e durante os conflitos muito dano de guerra foi causado.[14]
Em 540, no início da Guerra Lázica, Justiniano ordenou que seus generais estacionados no Oriente reunissem suas forças e atacassem conjuntamente a Armênia o mais rápido possível. Martinho, Ildígero e Teoctisto acamparam em Citarizo, onde uniram-se pouco depois com Pedro e Adólio; Isaque já estava lá e Filemudo e Vero acamparam em Corzianena. A expedição começou desordenadamente e terminou com uma derrota fragorosa dos bizantinos nas mãos de Nabedes na Batalha de Anglo.[15] No século seguinte, os bizantinos perderiam o controle da Corzianena, que ficaria nas mãos dos árabes até 937-942, quando o império foi capaz de reaver a região.[16] Na década de 1040 e em 1054, o distrito esteve sujeito a ataques dos turcos seljúcidas.[17]
Referências
- ↑ a b Hewsen 1992, p. 155.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 565.
- ↑ Howard-Johnston 2006, p. 203.
- ↑ Hewsen 1992, p. 19, nota 84; 59-59A, 250, 297.
- ↑ Hewsen 1992, p. 155, 313.
- ↑ a b Alston 2007, p. 112.
- ↑ Elton 2013, p. 97.
- ↑ Greatrex 1998, p. 23.
- ↑ Isaac 1992, p. 251.
- ↑ Sinclair 1989, p. 142.
- ↑ Howard-Johnston 2006, p. 214.
- ↑ Neumann 1982, p. 23.
- ↑ Greatrex 1998, p. 81.
- ↑ Howard-Johnston 2006, p. 216.
- ↑ Martindale 1992, p. 843.
- ↑ Howard-Johnston 2006, p. 240.
- ↑ Beihammer 2017, p. 77; 81.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Alston, Richard; Lieu, Samuel N. C. (2007). Aspects of the Roman East. Volume I: Papers in Honour of Professor Fergus Millar. Turnhout, Bélgica: Brepols Publishers
- Beihammer, Alexander Daniel (2017). Byzantium and the Emergence of Muslim-Turkish Anatolia, Ca. 1040-1130. Abingdon-on-Thames: Taylor & Francis
- Elton, Hugh (2013). Frontiers of the Roman Empire. Londres e Nova Iorque: Routledge. ISBN 1134724500
- Greatrex, Geoffrey (1998). Rome and Persia at war, 502-532. Leeds: Francis Cairns. ISBN 0905205936
- Hewsen, Robert H. (1992). The Geography of Ananias of Širak. The Long and Short Recensions. Introduction, Translation and Commentary. Wiesbaden: Dr. Ludwig Reichert Verlag
- Howard-Johnston, James (2006). East Rome, Sasanian Persia And the End of Antiquity: Historiographical And Historical Studies. Farnham: Ashgate Publishing. ISBN 0-86078-992-6
- Isaac, Benjamin H. (1992). The limits of empire: the Roman army in the East. Oxford: Clarendon Press
- Martindale, John R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). «Martinus 2». The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press. ISBN 0-521-20160-8
- Neumann, Günter; Tischler, Johann (1982). Serta Indogermanica. Insbruque: Instituto de Linguística da Universidade de Insbruque
- Sinclair, T. A. (1989). Eastern Turkey: An Architectural & Archaeological Survey Vol. III. Londres: Pindar Press
- Toumanoff, Cyril (1963). Studies in Christian Caucasian History. Washington: Georgetown University Press