Diane Arbus
Diane Arbus | |
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Retrato de Diane Arbus por Roz Kelly (c. 1968)
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Nome completo | Diane Nemerov |
Nascimento | 14 de março de 1923 Nova Iorque, Nova Iorque, EUA |
Morte | 26 de julho de 1971 (48 anos) Nova Iorque, Nova Iorque, EUA |
Nacionalidade | norte-americana |
Cônjuge | Allan Arbus (1941-1969) |
Ocupação | Fotógrafa |
Diane Arbus (Nova Iorque, 14 de março de 1923 — Nova Iorque, 26 de julho de 1971) foi uma fotógrafa e escritora norte-americana, conhecida pelas suas fotografias quadradas em preto-e-branco de pessoas comuns e de pessoas marginalizadas em suas vidas cotidianas.[1] Suicidou-se em 26 de julho de 1971.
Seu interesse por fotografia surgiu no início da vida adulta, ao lado de seu marido, com o qual começou uma agência de fotografia profissional cujos trabalhos estamparam diversas edições de moda da época, as quais interessavam-se pela abordagem crua do casal. Arbus, no entanto, revelou para um amigo que tinha medo de que fosse conhecida simplesmente como “a fotógrafa de aberrações”.[2]
Em 1971, após uma série de crises depressivas, Arbus suicidou-se. Sua obra tornou-se cada vez mais popular e foi a primeira norte-americana a ter fotografias expostas na Bienal de Veneza.[3] Milhões de pessoas viram sua obra em exposições móveis entre 1972 e 1979. Entre 2003 e 2006, Arbus e a sua obra foram o tema de outra grande exposição móvel, Diane Arbus Revelations.[4]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Infância
[editar | editar código-fonte]Nascida em 14 de março de 1923, Diane Arbus foi a segunda dos três filhos de uma rica família judaica de Nova York. Cresceu com pouco contato com a parte da família de lado paterno, de pobres imigrantes, tendo sido a de lado materno parte integral de sua vida familiar e ajudado seus pais a enriquecerem através da loja de peles Russeks.
Estudou, como seus irmãos, na Ethical Culture School e Fieldston School, em Manhattan.[5] Mais tarde disse que a riqueza da sua infância “tinha algo de surreal, que nos confinava a todos. Tudo que conseguia sentir era a minha própria surrealidade” – via grande parte da sua carreira posterior como uma “busca por essa realidade à qual não teve contato”.[6]
Em 1929, aos seis anos de idade, com a crise econômica, a rotina familiar mudou. Apesar de não recordar-se de grandes alterações na vida de sua família, relatou que houve uma mudança de endereço para o Central Park West, reuniões para tratar das preocupações com os negócios, demissões de criados e a vinda de seu avô materno para sua casa.
Juventude
[editar | editar código-fonte]Na adolescência passou a ter mais contato com os negócios e as tradições da família: “No meio do primeiro andar daquela loja, onde depositavam-se as peles, sempre sentia-me como uma princesa de um péssimo filme em um cenário obscuro da Transilvânia ou de algum país europeu.”[7] Quando se aposentou da loja, o pai de Arbus tornou-se pintor, o que acabou por influenciar seus filhos, que se interessaram por arte: sua irmã mais nova tornou-se escultora e designer e seu irmão um renomado poeta. Ela também foi levada a pintar em aulas de pintura pagas por seu pais, mas detestava-as.[6]
Aos catorze anos, Diane conheceu Allan Arbus, de dezenove anos, que trabalhava no departamento de arte da Russeks e a quem Diane se apaixonou e começou uma relação intensa. As tentativas de seus pais de separá-los assemelharam-se às de seus avós na época de seus pais, que impediram-na de visitar Allan, o que, entretanto, não impediu-os de, pelos próximos quatro anos, encontrarem-se clandestinamente.
Em 1941, ao completar dezoito anos e tornar-se legalmente independente, casou-se com Allan, o que não deu outra alternativa para seus pais a não ser aceitar o casamento.[5] Em 1969, divorciou-se legalmente de Allan, mesmo que antes a relação já tenha acabado, da qual resultou dois filhos, Doon e Amy.[8]
Morte
[editar | editar código-fonte]Durante sua vida, temendo a fama, a necessidade de dinheiro e o desvio artístico, Arbus enfrentou diversos episódios de depressão, similares aos que sua mãe enfrentou.[5] A hepatite,[9] pela qual foi hospitalizada em 1968 e 1966, fez com que sentisse-se fraca e pensasse que estava perdendo a sua independência, o que possivelmente agravou a sua depressão.[5] Escreveu, em 1968, “Eu explodo e acalmo-me muitas vezes”, e o seu ex-marido disse que ela tinha “violentas mudanças de humor”.[7]
Em 26 de julho de 1971, aos 48 anos de idade, vivendo na Westbeth Artists Communit, em Nova York, Arbus suicidou-se ingerindo barbitúrico e cortando os pulsos com uma navalha. Seu corpo foi descoberto dois dias depois dentro de sua banheira, pelo seu antigo mentor e amigo Marvin Israel.[7][9]
Carreira fotográfica
[editar | editar código-fonte]Dupla com o marido
[editar | editar código-fonte]O interesse dos Arbuses em fotografia os levou a, em 1941, visitar a galeria de Alfred Stieglitz e aprender sobre os fotógrafos Mathew Brady, Timothy O’Sulivan, Paul Strand, Bill Brandt e Eugène Atget.[8][10] Allan foi convocado para a Segunda Guerra Mundial, onde tornou-se, inclusive, fotógrafo para o Corpo de Comunicações do Exército dos Estados Unidos.[8]
Em 1946, após Allan voltar da guerra, o casal decidiu começar uma carreira como fotógrafos de moda, o que os levou a começar uma agência de fotografia chamado Diane & Allan Arbus, com Diane como diretora artística e Allan como fotógrafo. O primeiro trabalho do casal foi tirar fotos para propaganda da loja do pai de Diane – o primeiro de uma série de trabalhos que duraria mais de dez anos e daria sucesso à agência, cujo estilo foi feito por Diane, tendo Allen cuidando da parte técnica da fotografia.[7] Contribuíram para as revistas Glamour, Seventeen, Vogue, Harper’s Bazaar e outras revistas de moda, apesar “de os dois odiarem o mundo da moda”.[11][12]
Apesar do editorial de 200 páginas na Glamour e mais de 80 páginas para a Vogue, as fotografias de moda dos Arbus eram descrtias como de “qualidade média”.[13] A famosa exposição de fotografia de 1955 de Edward Steichen, The Family of Man, incluiu uma fotografia dos Arbuses de um pai e um filho lendo um jornal.[9]
Independente
[editar | editar código-fonte]Em 1956, o casal fechou o negócio de fotografia,[7] tendo o desprezo de Diane pelo mundo da moda aumentado, e a depressão começado a surgir, como ocorreu com a sua mãe.[5] O fim do negócio deu início à carreira individual de Diane (algo inconvencional para uma mulher da época), preparada pelos estudos que ela teve com Lisette Model, iniciados no mesmo ano, e que levaram aos métodos mais conhecidos e o estilo de Diane, apesar de antes já ter tido aulas de fotografia com Berenice Abbott.[7] Nesses primeiros momentos da carreira própria, Arbus publicou em revistas como a Esquire, a Harper’s Baazar e a The Sunday Times Magazine.[9]
No 1959, Arbus conheceu Marvin Israel, seu segundo professor que rapidamente tornou-se uma das suas principais influências e a introduziu nas técnicas do mundo comercial (o que ajudou o prosseguimento da sua carreira, pois Arbus era muito tímida e hesitante quanto às oportunidades profissionais de sua fotografia).[5] Israel tornou-se, em 1961, o diretor artístico da Harper’s Bazaar, podendo então ajudá-la ainda mais publicando-a na revista.[14] No verão do mesmo ano, Arbus levou seu portfólio para a Esquire e mostrou para Harold Hayes, editor de artigos, o que acabou por levar ao convite, de alguns meses mais tarde, para que ela fotografasse um ensaio da vida noturna de Nova York.[15] O editorial foi publicado sob o título de The Vertical Journey: Six Movements of a Moment Within the Heart of the City, em julho de 1960, contendo os retratos de Arbus para seis cenas cotidianas da vida nova-iorquina.[16]
O editorial foi o primeiro passo de uma carreira própria com a qual Arbus colaborou para publicações como a Nova, New York, Essence, The New York Times, Holiday, Sports Illustrated e The Saturday Evening Post. Publicou nessa época diversas contribuições, tentando manter sua integridade artística ao mesmo tempo em que sustentava-se economicamente através da fotografia, um dilema também enfrentado por outros colegas de profissão.[5]
Por volta de 1962, Arbus trocou sua câmera, uma Nikon de 35 mm, por uma Rolleiflex utilizando filme de 120 mm, o que permitiu que suas fotografias ficassem menos granuladas e mais claras. As dimensões das fotografias feitas por essa nova câmera, 60 x 60 mm, acabaram por tornar-se uma de suas assinaturas, assim como a atitude vulnerável dos fotografados que decorria do flash.[9][17][18]
Em 1963, foi condecorada com a Bolsa Guggenheim por um projeto na categoria American rites, manners and customs, que foi renovada em 1966.[3][19] Em 1964, Arbus começou a usar uma câmera refletiva de duas lentes Mamiya C33, junto com a sua Rolleiflex. Outra técnica que usava em sua arte e que ia além dos equipamentos era a criação de uma forte relação pessoal com os fotografados e o registro múltiplo deles, muitas vezes tirado durante vários anos.[9][11]
Maturidade
[editar | editar código-fonte]Seus trabalhos artísticos independentes de revistas tornaram-na uma figura subversiva: primeiro em 1965, oito anos depois de sua primeira foto de uma travesti, quando expôs algo parecido em Recent Acquisitions no MoMA, curada pelo fotógrafo John Szarkowski e que causou polêmica entre a crítica e o meio artístico, angariando inclusive elogios pela inovação por Andy Warhol; e depois em 1970, com a publicação de Dois homens dançando em um baile drag.[20] Por essa época Arbus começou a cansar-se ainda mais do mundo da moda e das fotografias por encomenda – e também aqui começou a explorar novas áreas: além das fotografias de grupos tipicamente marginalizados na época, começou a fotografar casais, famílias, nudistas, gêmeos e trigêmeos.[5]
Em 1967, apresentou-se novamente no MoMA, em uma exposição maior, a New Documents, ao lado de fotógrafos como Garry Winogrand e Lee Friedlander, com o mesmo curador, Szarkowski, e que deu a ela a esperança de que, com um sucesso na exposição, poderia conseguir sustentar-se através de outras exposições e diminuir as suas contribuições ao mundo da moda, o que já estava fazendo com o aumento da sua fama como artista.[4][9][21] A crítica reagiu positivamente, apesar de o sucesso da exposição ter consolidado a opinião, temida por ela mesma, de que era uma “fotógrafa de aberrações”.[5]
Em dezembro, foi contratada por Clay Falker para fotografar a atriz Viva para a então recém-criada New York Magazine,[22] entregando uma série de fotos de nus, publicada na edição de 29 de abril de 1968. A edição gerou uma sucessão de escândalos: Viva achou que foi enganada por Arbus e deu início a um processo, apesar de depois tê-lo abandonado; o público e os patrocinadores ficaram tão chocados que a revista perdeu mais de um milhão em patrocinadores, a maioria dos quais não voltou. O jornalista Tom Morgan disse que essas fotografias foram “divisores de água. Elas quebraram as barreiras entre vida privada e vida pública”.[5]
Ao fim da década de 1960 havia construído uma carreira sólida e respeitada, e passou a ensinar fotografia na Parsons School of Desgin e no Cooper Union, em Nova Iorque, e a Rhode Island School of Design, em Providence, Rhode Island.[23] A consolidação de sua carreira e as aulas dadas fizeram com que a nova geração de fotógrafos de então a visse como um exemplo.[5]
Nos seus últimos anos, usando luzes mais claras, tirou uma série de fotografias de pessoas com deficiência intelectual demonstrando diversas emoções. No começo, Arbus as considerou “líricas e doces e belas”, mas em junho de 1971 ela disse a Lisette Model que odiava-as.[17]
Ligando-se a fotógrafos contemporâneos como Robert Frank e Saul Leiter, também ajudou a consolidar o termo “escola Nova Iorque de fotografia de 1936 a 1963”, usado por Jane Livingston.[24] Outro fotógrafo com o qual manteve contato foi seu contemporâneo Richard Avedon, cuja vida e obra coincidiam com a da própria Arbus em certas características.[11][17][25]
Filmografia
[editar | editar código-fonte]- Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus - filme livremente inspirado no livro Diane Arbus: A Biography, de Patricia Bosworth.
Referências
- ↑ «Diane Arbus' Iconic Photographs Of Strange Neighbors Come Together At Fotomuseum Winterthur». The Huffington Post. 3 de dezembro de 2012. Consultado em 14 de agosto de 2014
- ↑ Bosworth, Patricia (2005). Diane Arbus. a Biography (em inglês) 1 ed. Nova York: W. W. Norton. 250 páginas. ISBN 0-393-32661-6
- ↑ a b «Diane Arbus». Consultado em 14 de agosto de 2014. Arquivado do original em 25 de Novembro de 2010
- ↑ a b Rubinfien, Leo (2005). Where Diane Arbus Went. Col: Art in America (em inglês) 9 ed. [S.l.]: W. W. Norton. pp. 65–71, 73, 75, 77
- ↑ a b c d e f g h i j k Hillary Mac Austin. «Diane Arbus». Jewish Women’s Archive. Consultado em 14 de agosto de 2014
- ↑ a b «Diane Arbus talks with Studs Terkel». Internet Archive. 28 de março de 1973. Consultado em 14 de agosto de 2014
- ↑ a b c d e f «Arbus Reconsidered». The New York Times. 14 de setembro de 2003. Consultado em 14 de agosto de 2014
- ↑ a b c Meir Ronnen (10 de outubro de 2003). «The Velazquez of New York». The Jerusalem Post. Consultado em 14 de agosto de 2014. Arquivado do original em 7 de Março de 2016
- ↑ a b c d e f g Tessa DeCarlo (maio de 2004). «A Fresh Look at Diane Arbus». Smithsonian Magazine. Consultado em 14 de agosto de 2014
- ↑ Diane Arbus. Revelations (em inglês). [S.l.]: Random House. 2003. ISBN 0-375-50620-9
- ↑ a b c Robin Muir (18 de outubro de 1997). «Woman's studies». The Independent. Consultado em 14 de agosto de 2014
- ↑ Tarzan, Deloris (1986). «Arbus – Her Brutal Lens Disclosed Aspects Previously Unseen in Her Subjects». The Seattle Times (em inglês)
- ↑ O’Neill, Alistair (julho de 2008). A Young Woman. N.Y.C. Col: Photography & Culture (em inglês) 1 ed. [S.l.]: Bloomsbury Journals. pp. 7–20. ISBN 0-375-50620-9
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- ↑ V.B. (23 de fevereiro de 2012). «She snapped it like she saw it». The Economist. Consultado em 14 de agosto de 2014
- ↑ Hannah Lack (25 de outubro de 2011). «William Todd Schultz on Diane Arbus». Another Magazine. Consultado em 14 de agosto de 2014
- ↑ a b c Sass, Louis A. (verão de 2005). Hyped on Clarity. Diane Arbus and the Postmodernism Condition (em inglês) 1 ed. [S.l.]: Raritan. pp. 1–37
- ↑ Richard Lacayo (3 de novembro de 2003). «Photography: Diane Arbus: Visionary Voyeurism». TIME. Consultado em 14 de agosto de 2014
- ↑ «Guggenheim Fund Grants $1,380,000». The New York Times. 29 de abril de 1963
- ↑ Laureen Trainer. «DIANE ARBUS: "The Missing Photographs: An Examination of Diane Arbus's Images of Transvestites and Homosexuals from 1957 to 1965″». American Suburb X. Consultado em 14 de agosto de 2014
- ↑ The Other Side of Diane Arbus (em inglês) 2 ed. [S.l.]: Society. Janeiro–fevereiro de 1991. pp. 75–79
- ↑ Tom Wolfe (6 de julho de 2008). «A City Built of Clay». New York. Consultado em 14 de agosto de 2014
- ↑ Szarkowski, John (1973). From the Picture Press (em inglês). Nova York: Museum of Modern Art
- ↑ Livingston, Jane (1992). The New York School: Photographs, 1936-1963 (em inglês). [S.l.]: Stewart Tabori & Chang. ISBN 978-1556702396
- ↑ Philip Gefter (27 de agosto de 2006). «In Portraits by Others, a Look That Caught Avedon's Eye». The New York Times. Consultado em 14 de agosto de 2014